O Beato Giácomo Cusmano, fundador do Bocado do Pobre, das Irmãs, Irmãos e Missionários Servos dos Pobres e conhecido como o “Pai dos Pobres” por ter realizado inúmeras obras de caridade na Itália do século XIX, nos relata, em uma de suas cartas, um sonho que teve com Nossa Senhora num momento muito crítico de sua vida. Ele passava por inúmeras dificuldades para manter suas obras de caridade. A tal ponto que chegou a querer abandonar tudo por acreditar que “nada ia pra frente” por sua culpa ou incapacidade. Tentou por muito tempo entregar a sua obra a alguma congregação religiosa. Mas ninguém aceitava assumir. Num determinado momento Nossa Senhora lhe aparece em sonho e o anima novamente a continuar não obstante os obstáculos.
Gostaria de compartilhar com vocês a narrativa deste sonho, pois é um grande exemplo a nos inspirar neste tempo, levando-nos sempre a acreditar na presença confortadora de Nossa Senhora nos momentos complicados da vida.
Assim ele nos relata o sonho:
No dia em que recebi esta outra recusa cheguei ao cúmulo da minha dor e, após ter terminado o trabalho era a hora do meu descanso, na amargura mais amarga do meu coração, estava começando a escrever uma carta ao meu Diretor para informá-lo do resultado negativo tido com as Pequenas Irmãs dos Pobres, e pedir a permissão para chamar as Estigmatinas e confiar a elas as órfãzinhas, abandonando para sempre a ideia de querer conservar ainda a Associação do Bocado do Pobre, que pela minha indignidade eu via totalmente destruída. Estando quase no final da carta, um sentimento de mal-estar unido ao sono, sem perceber, fez-me estender meus membros cansados sobre a cama que estava ao meu lado e, na quietude daquele repouso, parecia-me estar em um campo, na fenda de uma montanha que se erguia à minha esquerda, deixando aparecer uma sinuosidade pontiaguda que mostrava o azul do céu; no alto, dividida em duas elevações rochosas, uma das quais estendia sua base em colinas mais baixas à minha direita, eu via uma grande gruta onde estavam reunidas as minhas pobres órfãzinhas com as boas Irmãs que sempre cuidaram delas, atrás das quais distinguia outra mulher a mim desconhecida, também ela com trajes pobres e no ato de amamentar uma criança. Estas coisas se manifestavam todas ao mesmo tempo, e foi grande a minha surpresa quando naquela mulher reconheci a grande Mãe de Deus! Um alto grito e um rápido pulo que me fizeram cair genuflexo aos pés da Mãe Santíssima, deram a todos a percepção daquilo que estava acontecendo; mas eu não tinha mais outro pensamento e capacidade além do de beijar e beijar os pés da Santíssima Virgem, diante da qual eu estava prostrado com aquele conforto que uma criança perdida e assustada pode encontrar quando se encontra no colo da mãe, seguro e fora de todo perigo. Teria ficado lá por toda a minha vida, se a terna Mãe, erguendo-me dos seus Santíssimos Pés, não me tivesse apertado ao seu peito, aonde uns momentos antes tinha visto uma criança; e naquele instante, que eu não sei relembrar sem comoção, confortava-me a esperar porque a obra era aceita pelo Senhor e que oportunamente prosperaria em vista do grande fim pelo qual a havia feito nascer. Então, com um sentimento que aludia aos meus desalentos e às minhas indignidades “é ao meu terno Filho! É a Ele que tu deves tudo” dizia-me olhando atrás das minhas costas; olhar que me tirou da posição na qual eu estava; porque naquele mesmo instante, devido a um sentimento espontâneo de reverência, de gratidão, de temor, voltei-me para procurar Aquele a quem tudo eu devia, e vi a criança já menininho com a idade de 4 ou 5 anos, com os olhos vermelhos como de quem havia chorado muito e com uma postura séria que me levou a prostrar-me, a pedir perdão das minhas ingratidões, e implorar piedade por aquelas pobres criaturas a mim confiadas pedindo ainda a ajuda da sua Providência para poder saciá-las.
Então me levantei para pegar os fragmentos do pão que formavam toda a nossa provisão; mas voltando eu vi somente a Mãe de Deus, diante da qual prosternado, pedi que abençoasse aqueles pedacinhos para que bastassem para saciar a fome de todas as órfãzinhas; e a Mãe Santíssima, com benigno aspecto, acolhia a minha oração e abençoava aqueles poucos fragmentos, não como de costume, mas passando sobre eles a mão em forma de cruz: e eu, alegre, levantei-me para dividi-los às órfãzinhas, quando dirigindo o olhar à fenda da montanha vi duas panelonas de ferro em meio a um grande fogo e a água fervendo saltar juntamente com o macarrão que estava lá dentro. Queria buscar um pano para não me queimar ao tirar as panelas do fogo, mas uma fé viva que, quem me havia feito encontrar lá as panelas com o macarrão protegeria as minhas mãos, fez-me lançar para pegá-las. Quando, pois, acordei-me, fiquei surpreendido ao encontrar-me vestido sobre o leito, e não sabia como; mas nada lembrava do que tinha sonhado, nem o meu coração estava mais naquelas angústias que me tinham impulsionado a escrever a carta que estava sobre a mesa.
Este sonho foi retratado no painel (gravura em destaque) que está no “Seminário Mater Misericordiae” de Igarapé para nos inspirar a confiança em Maria nos momentos mais difíceis da Vida.
Que possamos nos confiar ainda mais à proteção da Grande Mãe de Deus e nossa.
Pe. Gilberto Boçon.
Foto: Lorena Romano