No Antigo Testamento, uma das qualidades atribuídas a Deus é a Paternidade. Deus é Pai e Israel, o povo escolhido por Deus, é o Filho. E no entanto, Iahweh, tu és nosso pai, nós somos a argila e tu és o nosso oleiro, todos nós somos obras das tuas mãos (Is 64, 7). Quando Israel era um menino, eu o amei e do Egito chamei meu filho (Os 11, 1). Neste sentido, todo judeu era considerado Filho de Deus.
Jesus era Filho de Deus, mas com uma diferença muito grande em relação ao povo de Israel. Jesus era Filho por geração e Israel é Filho de Deus em um sentido coletivo, jamais singular ou pessoal. Isso é muito evidente na maneira como Ele vive sua relação com Deus Pai. Jesus tem uma relação muita íntima com o Pai, existe uma proximidade muito forte entre os dois.
Jesus chama a Deus de Abba. E dizia: Abba! Ó pai! Tudo é possível para ti: afasta de mim este cálice; porém, não o que eu quero, mas o que tu queres. Esse modo de chamar a Deus é muito particular. Abba era como as crianças chamavam o Pai. Era umas das primeiras palavras que as crianças aprendiam, sendo uma forma muito carinhosa, mas que diz a profunda ligação entre a criança e o Pai. Podemos traduzir essa expressão como Papai. Jesus chama a Deus de Pai em um sentido mais singular e não coletivo como era para Israel.
Jesus falou com Deus de uma maneira totalmente diferente: como uma criança conversa com o seu Pai, ou seja, com muita intimidade e simplicidade.
Neste sentido, essa maneira de Jesus chamar a Deus de Pai revela a sua identidade filial e divina.
No Novo Testamento encontramos ainda dois testos que usam a palavra
Abba. Em Gl 4, 6: E porque sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai! Também em Rm 8, 15: Com efeito, não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos: Abba! Pai! Essa nova forma de chamar Deus foi recebida pelas primeiras comunidades cristãs, fazia parte da maneira como invocar a Deus e, ao mesmo tempo, revela-nos uma relação mais íntima de Deus com cada um de nós. Deus é Pai, não em sentido coletivo, mas de uma maneira mais singular. A diferença é que Jesus é Filho pela geração, nós somos filhos adotivos.
Cf. CIOLA N., Gesù Cristo Figlio di Dio. Vicenda storica e sviluppi dela tradizione ecclesiale, EDB, Bologna 2017, 294-299.
Pe. Marciano Scapini, s.d.P